Muitos identificam a Teologia da Missão Integral como sendo uma influência da Teologia da Libertação e da doutrina marxista. Mas a verdade é que ela é bíblica e dialoga com mundo pós-moderno de maneira eficaz.
A missão de Deus (missio dei) tem naturalmente a qualidade de ser integral. “Deus amou ao mundo”, o “mundo” traz a ideia da integralidade dos povos, todas as pessoas. E esse tom de integralidade perpassa toda a missão. É o evangelho todo para todas as pessoas respondendo a todas as necessidades. A missão integral contempla o ser humano de maneira holística, isto é, em todas as suas dimensões: física, espiritual, social e psíquica.
O professor Júlio Paulo Tavares Zabatiero explica que o apóstolo Paulo traz uma ótica da integralidade do Evangelho. 1. O evangelho integra judeus e gentios em uma nova humanidade; 2. O evangelho integra a natureza criada; 3. O evangelho integra os poderes nas regiões celestiais; 4. O evangelho integra todo o universo; 5. o evangelho integra o ser humano como um todo. Em suma, esses cinco tópicos na teologia paulina mostram que em Cristo haverá uma convergência escatológica de todos esses elementos: povos, criaturas (natureza), poderes, céus e terra. O caminho para essa convergência será a reconciliação e a paz promovida pela ação da igreja, comunidade de Cristo na Terra. Essa comunidade deve, através da total obediência a Cristo, encarnar as virtudes do Reino de Deus aqui e agora.
As duas principais virtudes do Reino de Deus que o prof. Zabatiero vai identificar na Palavra de Deus são a compaixão e o discernimento. A compaixão foi a motivação de Jesus em seu ministério. O principal mandamento de Jesus foi amar. Então a solidariedade é a prática dessa motivação na compaixão. Isso significa ver o outro como digno do nosso amor e cuidado. Na diaconia cristã o ser humano não é visto de maneira dicotômica, mas preocupa-se com o pobre (Gl 2:10). Essa compaixão deve ser motivo de uma reflexão de quais são as formas mais eficazes de servir aos necessitados. Qual é nossa responsabilidade social como cristãos?
Para John Stott “a ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro. (…). Tanto a evangelização pessoal quanto o serviço pessoal são expressões da nossa compaixão. Ambos são formas de testemunhar de Jesus Cristo, e ambos deveriam surgir de reações sensíveis às necessidades humanas” (STOTT; 1983).
Isso nos leva à segunda virtude do Reino, o discernimento. De que maneiras devemos agir? Esmolas? Para Zabatiero as esmolas são uma ação insuficiente: “É preciso ações mais eficazes. Por exemplo: projetos sociais de capacitação profissional, projetos sociais de desenvolvimento comunitário; movimentos sociais de luta contra o desemprego, contra a fome; movimentos políticos pela adoção de mecanismos de defesa econômica do cidadão”
Em seu livro Ação Social Cristã, Hélcio da Silva Lessa dividiu a responsabilidade social em três categorias: Assistência social; serviço social; ação social. Ele usa uma ilustração na atitude de cristãos em relação a prática da escravatura no século XIX. Na assistência social os cristãos cuidaram da fome, sede e feridas dos escravos; no serviço social eles iam mais adiante e compraram a liberdade de escravos e criavam mecanismos para empregar e proporcionar uma vida digna para esses ex-escravos; na ação social os cristãos lutaram contra a instituição da escravatura.
O prof. Zabatiero define, em contra posição do nosso tempo pós-moderno, que esse discernimento deve ser uma vida de reflexão e não apenas de sentimentos dentro das igrejas. Precisamos de uma razão comunicativa em lugar de um emocionalismo. E, nesse sentido, a reflexão nos levará à uma integridade. O Deus da justiça deve ser anunciado com integridade. A nossa fé deve nos levar à uma reflexão teológica e essa, por sua vez nos levar à missão, às boas obras.
C. L. Fonseca
Amei os temas e estou pesquisando sobre missões , para levar as pessoas como um estilo de vida cristã…