Missão África

A Essência da Missão

“Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas ” At.1:9-10

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Na época em que eu me converti, na década de 80, muito se falava sobre a volta de Jesus e muita coisa foi escrita anunciando que tudo aconteceria antes do ano 2000. Hoje penso que o destino de muitos desses livros é a lata do lixo.
No texto sagrado, temos as últimas palavras de Jesus antes de subir ao céu. Qual a importância delas? Foram palavras ditas de última hora ou foram enfatizadas num momento de despedida por terem uma importância capital?

O Senhor Jesus chama a atenção dos discípulos em que o interesse deles está fora do propósito de Deus. O Reino de Deus é tema importante e pertinente para nós, mas o “tempo” não: “não vos compete saber os tempos e as datas”. A pergunta deles é “quando”. Mas Jesus quer falar da essência da missão.

A revelação que temos sobre o Reino de Deus é de que ele já veio, e está aqui. Isso aconteceu no evento da encarnação do Filho de Deus. Mas, ao mesmo tempo, ela nos aponta que, por ocasião da volta de Jesus (parousia), o Reino alcançará sua visibilidade máxima.
O perigo para o qual eu gostaria de chamar a nossa atenção é de que, como os discípulos naquele momento, podemos ficar com os nossos olhos voltados para a “parousia” (ainda que o entendimento sobre a parousia era incompleto naquele momento, podemos aplicar o mesmo princípio) e perdermos de vista a essência da missão. Nesse caso, esperaremos a manifestação do terrível poder de Deus e não aproveitaremos a virtude do Espírito Santo que foi colocada à nossa disposição no tempo presente.

Quando a igreja comete esse erro teológico, ela se esvazia de sua missão sobre a Terra e fixa seus olhos no que Deus fará no futuro como se ele já não tivesse feito. Jesus não disse para esperarmos sentados. Ele disse que seríamos suas testemunhas. Esse erro teológico evoluiu para um desprezo do corpo e de tudo que é material como sendo impuro. Mas o próprio texto em questão nos mostra que Jesus havia ressuscitado com seu corpo e com ele subiu ao céu. A igreja começou a entender que Jesus veio para salvar apenas a alma e não o corpo. Assim a igreja reduziu a sua missão a fazer as pessoas crerem e ficarem sentadas esperando a “parousia”. Essa visão foi influenciada pela filosofia platônica e por religiões orientais com a ideia de que a matéria é má e impura e o imaterial é bom e puro.

Biblicamente, esse erro baseou-se na interpretação da palavra “carne”. A Bíblia chama a alma de carne. Mas na linha do erro entendeu-se que carne é o corpo. Martinho Lutero procurou corrigir esse erro em seu livro A Liberdade do Cristão:

“nenhuma coisa externa, seja qual for, pode fazer dele alguém agradável a Deus ou livre; pois nem sua piedade e liberdade, nem sua maldade e cativeiro são corpóreos ou externos. Que proveito tem a alma se o corpo é livre, forte e saudável, se come, bebe e vive como quer? Inversamente, que dano sofre a alma se o corpo, contra sua vontade, está aprisionado, enfermo e fraco, padecendo fome, sede e sofrimentos? Nada disso atinge a alma de maneira alguma, seja para libertá-la ou escravizá-la, seja para torná-la agradável a Deus ou má.”

Se entendermos que o corpo não serve para o Reino de Deus, vamos considerar pecado os prazeres ligados ao corpo e santidade quando eles são reprimidos. Nós vamos trabalhar somente pelo reino futuro e não no presente. Pode-se também desprezar o cuidado com o corpo. Vejamos como exemplo a prática do jejum. Seguindo essa linha de erro poderemos pensar que o jejum tem como objetivo causar sofrimento ao corpo e liberar o espírito. Mas o jejum verdadeiro que agrada a Deus, segundo Isaías 58, é desfazer a maldade e lutar contra a injustiça. Esse jejum considera o homem como um todo, espírito, alma e corpo, e não somente a alma em detrimento do corpo.

Nessa visão do reino de Deus, ser testemunha de Jesus é fazer como em Isaías 58:12: “Restaurar os caminhos e tornar o país habitável.” Ou seja, nossa missão não é somente cuidar da alma, mas do ser humano inteiro.
Gosto muito de citar Efésios 4:28 nesse contexto também: “O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.”

Nossa missão de sermos testemunhas de Jesus é muito mais ampla do que sentar e esperar o tempo e ficar cuidando da alma enquanto o corpo padece.
A promessa de Jesus é de que temos o poder do Espírito Santo para desempenhar nossa missão.

Pr. Celso Fonseca

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